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sexta-feira, 25 de março de 2011

Dez anos sem Milton Santos







Sempre com seu sorriso nos lábios e o olhar que revelavam sua clarividência desde o primeiro momento em que começava a se manifestar



23/03/2011

Silvio Tendler

No inicio de 2001 entrevistei o professor Milton Santos. A riqueza do depoimento do geógrafo me obrigou a transformá-lo no filme "Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá". Lá pelas tantas o professor critica a "neutralidade" dos analistas econômicos dizendo que eles defendiam os interesses das empresas que serviam.

Dez anos depois o cineasta Charles Ferguson em seu magnífico filme "Inside Job" esmiúça em detalhes a fala de Milton Santos e revela a promiscuidade nos Estados Unidos entre bancos, governo e universidades. Revela a ciranda entre universitários que servem a bancos e empresas financeiras, vão para o governo, enriquecem nesse trajeto, não pagam impostos, escrevem pareceres milionários para governos estrangeiros induzindo a adotarem políticas que favoreçam o sistema financeiro internacional. Quebram aplicadores e fundos de pensão incentivando a investirem em papéis, que já sabiam, com antecedência, que eram micados. E quando são demitidos das instituições financeiras partem com indenizações milionárias. Acertadamente este filme ganhou o Oscar de melhor documentário de 2011.

Na outra ponta da história está o filme "Biutiful" do Mexicano Alezandro Gonzalez Iñarritu, rodado em Barcelona e narra a vida dos fodidos, das vitimas do sistema financeiro internacional: africanos e chineses que vão para a Espanha para escapar da fome e do desemprego e se submetem a condições de vida sub-humanas. O trabalho do ator Javier Bardem rendeu o prêmio de melhor ator do Festival de Cannes de 2010.

São filmes para ninguém botar defeito e desconstroem as perversidades do mundo em que estamos vivendo.

Em discurso recente em Wisconsin, solidário aos trabalhadores que lutam contra novas gatunagens, o colega estadunidense Michael Moore declarou:

"Vou repetir. 400 norte-americanos obscenamente ricos, a maior parte dos quais foram beneficiados no ‘resgate’ de 2008, pago aos bancos, com muitos trilhões de dólares dos contribuintes, têm hoje a mesma quantidade de dinheiro, ações e propriedades que tudo que 155 milhões de norte-americanos conseguiram juntar ao longo da vida, tudo somado. Se dissermos que fomos vítimas de um golpe de estado financeiro, não estamos apenas certos, mas, além disso, também sabemos, no fundo do coração, que estamos certos.

Mas não é fácil dizer isso, e sei por quê. Para nós, admitir que deixamos um pequeno grupo roubar praticamente toda a riqueza que faz andar nossa economia, é o mesmo que admitir que aceitamos, humilhados, a ideia de que, de fato, entregamos sem luta a nossa preciosa democracia à elite endinheirada. Wall Street, os bancos, os 500 da revista Fortune governam hoje essa República – e, até o mês passado, todos nós, o resto, os milhões de norte-americanos, nos sentíamos impotentes, sem saber o que fazer".

E arrematou com maestria e indignação:

"...Falei com o meu coração, sobre os milhões de nossos compatriotas americanos que tiveram suas casas e empregos roubados por uma classe criminosa de milionários e bilionários. Foi na manhã seguinte ao Oscar, na qual o vencedor de melhor documentário por "Inside Job" estava ao microfone e declarou: "Devo começar por salientar que, três anos depois de nossa terrível crise financeira causada por fraude financeira, nem mesmo um único executivo financeiro foi para a cadeia. E isso é errado. "E ele foi aplaudido por dizer isso. (Quando eles pararam de vaiar discursos de Oscar? Droga!)"

Esse ano celebramos os dez anos da morte do professor Milton Santos. Quem quiser ler "Por uma Outra Globalização" do Professor Milton Santos encontrará um diagnóstico perfeito do processo de globalização que gestou as mazelas descritas em "Inside Job" e "Biutiful". Quem quiser reencontrá-lo em "Encontro Com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá", estará celebrando a vida e o pensamento de um dos maiores pensadores do Século 20, capaz de ter antecipado muito do que estamos vivendo hoje. Sempre com seu sorriso nos lábios e o olhar que revelavam sua clarividência desde o primeiro momento em que começava a se manifestar.


Silvio Tendler é cineasta, diretor de Os anos JK, Jango Utopia & barbárie, entre outros documentários.

Fonte: publicado na edição 420 do Brasil de Fato.
































Filme Inside Job - A Verdade da Crise




Através de uma pesquisa intensiva e entrevistas com economistas, políticos e jornalistas, "Inside Job - A Verdade da Crise" mostra-nos as relações corruptas existentes entre as várias partes da sociedade. Narrado pelo ator Matt Damon e realizado por Charles Fergunson, este é o primeiro filme que expõe a verdade acerca da crise econômica de 2008. A catástrofe, que custou mais de US$20 trilhões, fez com que milhões de pessoas perdecem as suas casas e empregos.



País: Estados Unidos

Ano: 2010

Género: Documentário

Duração: 120m


TRAILER
http://cinema.sapo.pt/filme/inside-job/video/wzAD2dj6wb0zy845unKm

quarta-feira, 23 de março de 2011

Líbia um Massacre Imperialista

Líbia: O maior empreendimento militar desde a invasão do Iraque
(Rumo a uma operação militar prolongada)


Michel Chossudovsky
22/Mar/2011


• Mentiras montada pela mídia internacional: Bombas e mísseis são apresentados como instrumentos de paz e de democratização.

• Isto não é uma operação humanitária. O ataque à Líbia abre um novo teatro de guerra regional.

• Já há três diferentes teatros de guerra no Oriente Médio - região da Ásia Central: Palestina, Afeganistão e Iraque.

• O que está acontecendo é um quarto Teatro de Guerra EUA-OTAN no Norte de África, com risco de escalada.

• Estes quatro teatros de guerra estão funcionalmente relacionados, fazem parte de uma agenda militar integrada EUA-OTAN.


O bombardeio a Líbia esteve nos planos do Pentágono durante vários anos, como confirmado pelo antigo comandante da OTAN, general Wesley Clark.


A operação Odissey Dawn é reconhecida como a "maior intervenção militar ocidental no mundo árabe desde que começou a invasão do Iraque, há exatamente oito anos" (Rússia: Stop 'indiscriminate' bombing of Libya - Taiwan News Online, March 19, 2011).


Esta guerra faz parte da batalha pelo petróleo. A Líbia está entre as maiores economias petrolífera do mundo, com aproximadamente 3,5% das reservas globais de petróleo – mais que o dobro das do EUA.


O objetivo subjacente é obter controle sobre as reservas de petróleo e gás da Líbia sob o disfarce de uma intervenção humanitária.


As implicações geopolíticas e econômicas de uma intervenção militar conduzida pelos EUA-OTAN contra a Líbia são de extremo alcance.


A Operação "Odyssey Dawn" faz parte de uma agenda militar mais vasta para o Oriente Médio e Ásia Central, a qual consiste em obter controle e propriedade corporativa sobre mais de 60% das reservas mundiais de petróleo e gás natural, incluindo as rotas dos oleodutos e gasodutos.


Com 46,5 bilhões de barris de reservas comprovadas (10 vezes as do Egito), a Líbia é a maior economia petrolífera no continente africano seguida pela Nigéria e Argélia (Oil and Gas Journal). Em contraste, as reservas comprovadas dos EUA são da ordem dos 20,6 bilhões de barris (Dezembro 2008) de acordo com a Energy Information Administration. U.S. Crude Oil, Natural Gas, and Natural Gas Liquids Reserves ).

O maior empreendimento militar desde a invasão do Iraque


Uma operação militar desta dimensão e magnitude, envolvendo a participação ativa de vários membros da OTAN e países parceiros, nunca é improvisada. A operação Odyssey Dawn estava em etapa avançada de planejamento militar antes do movimento de protesto no Egito e na Tunísia.


A opinião pública foi levada a acreditar que o movimento de protesto se propagou espontaneamente da Tunísia e do Egito à Líbia.


A insurreição armada na Líbia Oriental é apoiada diretamente por potências estrangeiras. As forças rebeldes em Bengazi imediatamente arvoraram a bandeira vermelha, negra e verde com o crescente e a estrela: a bandeira da monarquia do rei Idris, o qual simbolizava o domínio das antigas potências coloniais. (Ver Manlio Dinucci, Libya-When historical memory is erased, Global Research, February 28, 2011)


A insurreição também foi planejada e coordenada com o cronograma da operação militar. Ela foi cuidadosamente planejada meses antes do movimento de protesto, como parte de uma operação encoberta.


Forças especiais dos estadunidenses e britânicas foram descritas como estando no território para "ajudar a oposição" desde o princípio.


Do que estamos tratando? De uma agenda militar, um cronograma de eventos militares e de inteligência cuidadosamente planejados.

Cumplicidade das Nações Unidas


Até agora, a campanha de bombardeio resultou em incontáveis baixas civis, as quais são classificadas pelos mídia como "danos colaterais" ou atribuídas às forças armadas líbias.


Numa ironia amarga, a Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU concede à OTAN um mandato "para proteger civis".

Proteção de civis


Autoriza Estados membros que notificaram o secretário-geral, a atuaram nacionalmente ou através de organizações regionais ou acordos, e a atuaram em cooperação com o secretário-geral, e tomarem todas as medidas necessárias, não obstante o parágrafo 9 da resolução 1970 (2011), para proteger civis e áreas ocupadas por civis sob ameaça de ataque na Jamairia (república das massas) Árabe Líbia, incluindo Bengazi, enquanto excluindo uma forças de ocupação estrangeira de qualquer forma sobre qualquer parte do território líbio, e requer os Estados membros relacionados a informarem imediatamente o secretário-geral das medias que tomarem de acordo com a autorização conferida por este parágrafo a qual será imediatamente informada ao Conselho de Segurança. (UN Security Council Resolution on Libya: No Fly Zone and Other Measures, March 18, 2011)


A resolução da ONU garante às forças da coligação carta branca para empenharem-se numa guerra total contra um país soberano em desrespeito do direito internacional e em violação da Carta das Nações Unidas. Ela também serve a interesses financeiros dominantes: não só permite à coligação militar bombardear um país soberano como também permite o congelamento de ativos, pondo assim em perigo o sistema financeiro da Líbia.

Congelamento de ativos


Decide que o congelamento de ativos imposto pelo parágrafo 17, 19, 20 e 21 da resolução 1970 (2011) será aplicados a todos os fundos, e ativos financeiros e recursos econômicos que estão no seu território, os quais são de propriedade ou controlado, direta ou indiretamente, pelas autoridades líbias,...


Em nenhuma parte da resolução do Conselho de Segurança da ONU é mencionada a questão da mudança de regime. Mas é entendido que forças da oposição receberão parte do dinheiro confiscado sob o artigo 19 de resolução 1973. Discussões com líderes da oposição para esse item de fato já tiveram discussão. Isso se chama desvio do texto e fraude financeira.


Afirma a sua determinação de assegurar que ativos congelados de acordo com o parágrafo 17 da resolução 1979 (2011) deverão, numa etapa posterior, tão logo quanto possível serem disponibilizados para o benefício do povo da Jamairia Árabe Líbia;


Em relação à "Imposição do embargo de armas" sob o parágrafo 13 da resolução, as forças da coligação comprometer-se-ão sem exceção a impor um embargo de armas à Líbia. Mas desde o princípio eles violaram o Artigo 13, ao fornecerem armas às forças de oposição em Bengazi.

Operação militar prolongada?


Os conceitos são invertidos. Numa lógica absolutamente enviesada, paz, segurança e proteção do povo líbio devem ser alcançados através de ataques de mísseis e bombardeamentos aéreos.


O objetivo da operação militar não é a proteção de civis, mas a mudança de regime e a ruptura do país, como na Jugoslávia, nomeadamente a partição da Líbia em países separados. A formação de um Estado separado na área produtora de petróleo da Líbia Oriental foi contemplada por Washington durante muitos anos.


Cerca de uma semana antes do ataque e bombardeio, o diretor da inteligência nacional James Clapper enfatizou num testemunho ao Comitê de Serviços Armados do Senado dos EUA que a Líbia tem capacidade de defesa aérea significativas e que uma abordagem zona de interdição de voo poderia potencialmente resultar numa prolongada operação militar.


A política de Obama tem o "objetivo de afastar Kadafi", reiterou o conselheiro de segurança nacional.


Mas o testemunho de Clapper revela quão difícil isso poderia ser.


Ele disse ao comitê do Senado pensar que "Kadafi está nisto por muito tempo" e que não pensa ter Kadafi "qualquer intenção... de abandonar".


Finalmente, enumerando as razões porque acredita que Kadafi prevalecerá, Clapper disse que o regime tem mais stocks militares e pode contar com um exército bem treinado, unidades "robustamente equipadas", incluindo a 32ª Brigada, a qual é comandada pelo filho de Kadafi, Khamis, e a 9ª Brigada.


O grosso do seu hardware inclui defesas aéreas de fabricação russa, artilharia, tanques e outros veículos, "e eles parecem mais disciplinados quanto ao modo como tratam e reparam esse equipamento", continuou Clapper.


Clapper contestou afirmações de que uma zona de interdição de voo poderia ser imposta à Líbia rápida e facilmente, dizendo que Kadafi comanda o segundo maior sistema de defesa aérea do Médio Oriente, logo após o do Egito.


"Eles têm um bocado de equipamento russo e há uma certa qualidade nos números. Algum do equipamento caiu nas mãos dos oposicionistas", continuou.


O sistema compreende cerca de 32 sítios de mísseis terra-ar e um complexo de radar que "está centrado na proteção da linha costeira (mediterrânea) onde está 80 ou 85 por cento da população", disse Clapper. As forças de Kadafi também têm "um número muito grande" de mísseis anti-avião disparados do ombro (shoulder-fired anti-aircraft missiles).


O general do Exército Ronald Burgess, diretor da Defense Intelligence Agency, endossou a avaliação de Clapper, dizendo que o momento estava a mudar em favor das forças de Kadafi depois de estar inicialmente com a oposição.


"Se mudou ou não plenamente para o lado de Kadafi neste momento dentro do país penso que não está claro", disse Burgess. "Mas agora atingimos um estado de equilíbrio onde... a iniciativa, se quiser, pode estar do lado do regime".


Horas depois de Clapper ter falado, Thomas Donilon, conselheiro de segurança nacional de Obama, apresentou uma avaliação diferente, o que sugere pontos de vista agudamente divergentes entre a Casa Branca e a comunidade de inteligência dos EUA.


Ele disse que a análise dos chefes de inteligência eram "estáticas" e "unidimensionais", com base no equilíbrio de força militar, e deixava de levar em conta tanto o crescente isolamento de Kadafi como ações internacionais para promover seus oponentes. ( White House, intel chief split on Libya assessment
McClatchy, March 11, 2011).


A declaração anterior sugere que a Operação Odyssey Dawn podia levar a uma guerra prolongada e persistente resultando em perdas significativas para a OTAN-EUA.
As dificuldades militares da OTAN foram relatadas por fontes líbias desde o princípio da campanha aérea.


Horas após o começo dos bombardeamentos, fontes líbias (ainda a serem confirmadas) destacaram o derrube de três jactos franceses. (Ver Mahdi Darius Nazemroaya, Breaking News: Libyan Hospitals Attacked. Libyan Source: Three French Jets Downed , Global Research, March 19, 2011). A rede nacional de TV da Líbia anunciou que um caça francês havia sido derrubado próximo de Trípoli. O exército francês negou estes relatos:


"Rejeitamos a informação de que um caça francês tenha sido derrubado na Líbia. Todos os aviões que enviamos hoje em missões retornaram à base", disse o porta-voz do Exército francês, coronel Thierry Burkhard, citado por Le Figaro ". (Libya: A french fighter plane was shot down! The French Army denies this information, xiannet.net March 20, 2011)
Fontes internas líbias (a serem confirmadas) também relataram no domingo a derrubada de dois caças militares do Qatar. Segundo relatos líbios, ainda a serem confirmados, um total de cinco caças franceses foi derrubado. Três destes jatos franceses foram, segundo os relatos, derrubados em Trípoli. Os outros dois jatos franceses foram derrubados enquanto atacavam Sirt (Surt/Sirte). (Mahdi Darius Nazemroaya, Libyan Sources Report Italian POWs Captured. Additional Coalition Jets Downed, Global Research, March 20, 2011)

Fonte: http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23815
Revisão Zeno Crocetti

sexta-feira, 18 de março de 2011

Insurreição e intervenção militar na Líbia: Os EUA-OTAN-CIA tentam golpe de Estado na Líbia

Insurreição e intervenção militar na Líbia: Os EUA-OTAN-CIA tentam golpe de Estado na Líbia!


Michel Chossudovsky


09/03/2011

Parte 1

Os EUA e a OTAN estão apoiando uma insurreição armada na Líbia Oriental, tendo em vista justificar uma "intervenção humanitária".




Isto não é um movimento de protesto não violento como no Egito e na Tunísia. As condições na Líbia são fundamentalmente diferentes. A insurreição armada na Líbia Oriental é apoiada diretamente por potências estrangeiras. A insurreição em Bengazi imediatamente arvorou a bandeira vermelha, negra e verde com o crescente e a estrela: a bandeira da monarquia do rei Idris, a qual simbolizava o domínio das antigas potências coloniais. (Ver Manlio Dinucci, Libya-When historical memory is erased , Global Research, Febraury 28, 2011)

Conselheiros militares e forças especiais dos EUA e OTAN já estão no terreno. A operação foi planeada para coincidir com o movimento de protesto em países árabes vizinhos. A opinião pública foi levada a acreditar que o movimento de protesto havia-se espalhado espontaneamente da Tunísia e do Egito para a Líbia.

A administração Obama em consulta com os seus aliados está ajudando uma rebelião armada, nomeadamente uma tentativa de golpe de Estado.

"A administração Obama está pronta a oferecer "qualquer tipo de assistência" a líbios que procurem derrubar Moammar Kadafi, secretária de Estado Hillary Clinton [27 Fevereiro]. "Temos estendendo a mão a muito diferentes líbios que estão tentando organizar-se no Leste e para que a revolução mova-se também em direção Oeste", disse Clinton. "Penso que é demasiado cedo para dizer como isto vai terminar, mas temos de estar prontos e preparados para oferecer qualquer espécie de assistência que alguém pretenda ter dos Estados Unidos". Há esforços encaminhados para formar um governo provisório na parte Leste do país onde a rebelião começou em meados do mês.

Os EUA, disse Clinton, estão ameaçando com medidas contra o governo de Kadafi, mas não disse qual eram ou quando poderiam ser anunciadas.

Os EUA deveriam "reconhecer algum governo provisório que eles estejam pondo de pé..." [McCain}

Lieberman falou em termos semelhantes, urgindo "apoio tangível, uma zona de interdição de vôo, reconhecimento do governo revolucionário, o governo de cidadãos e apoiá-los com assistência humanitária e eu lhes forneceria armas". ( Clinton: US ready to aid to Libyan opposition - Associated, Press , February 27, 2011, sublinhados pelo autor)



A INVASÃO PLANEJADA

Uma intervenção militar é agora contemplada pelas forças dos EUA e OTAN sob um "mandato humanitário".

"Os Estados Unidos estão deslocando forças navais e aéreas para região" para "preparar o conjunto completo de opções" na confrontação com a Líbia: o porta-voz do Pentágono, Cor. Dave Lapan, dos Fuzileiros Navais, fez este anúncio [1 Março]. Ele disse que "foi o presidente Obama que pediu aos militares para prepararem-se para estas opções", porque a situação na Líbia está ficando pior". (Manlio Dinucci, Preparing for "Operation Libya": The Pentagon is "Repositioning" its Naval and Air Forces... , Global Research, March 3, 2011, sublinhado pelo autor)

O objetivo real da "Operação Líbia" não é estabelecer democracia mas sim tomar posse das reservas de petróleo líbias, desestabilizar a National Oil Corporation (NOC) e finalmente privatizar a indústria petrolífera do país, nomeadamente transferir o controle e a propriedade da riqueza petrolífera da Líbia para mãos estrangeiras. A National Oil Corporation (NOC) está classificada entre as 100 principais companhias de petróleo ( A Energy Intelligence classifica a NOC no 25º lugar entre as 100 principais companhias do mundo. –Libyaonline.com )

A Líbia está entre as maiores economias petrolíferas do mundo com aproximadamente 3,5% das reservas de petróleo globais, mais do que o dobro daquelas dos EUA. (para mais esclarecimentos ver a Parte II deste artigo, "Operação Líbia" e a batalha pelo petróleo)

A planejada invasão da Líbia, que já está em curso, faz parte do conjunto mais vasto da "Batalha pelo petróleo". Cerca de 80 por cento das reservas petrolíferas da Líbia estão localizadas na bacia do Golfo de Sirte da Líbia Oriental. (Ver mapa abaixo)

As concepções estratégicas por trás da "Operação Líbia" recordam empreendimentos militares anteriores dos EUA-OTAN na Iugoslávia e no Iraque.

Na Iugoslávia, forças dos EUA-OTAN desencadearam uma guerra civil. O objetivo era criar divisões políticas e étnicas, as quais finalmente levaram à fragmentação de todo um país. Este objetivo foi alcançado através do financiamento encoberto e do treino de forças paramilitares armadas, primeiro na Bósnia (Bosnian Muslim Army, 1991-95) e a seguir no Kosovo (Kosovo Liberation Army (KLA), 1998-1999). Tanto no Kosovo como na Bósnia, a desinformação da mídia (incluindo mentiras rematadas e falsificações) foi utilizada para apoiar as afirmações dos EUA-UE de que o governo de Belgrado havia cometido atrocidades, justificando dessa forma uma intervenção militar com razões humanitárias.

Ironicamente, a "Operação Iugoslávia" agora está nos lábios dos feitores da política externa estadunidense: o senador Lieberman "comparou a situação na Líbia aos acontecimentos nos Bálcãs na década de 1990 quando, disse ele, os EUA "intervieram para parar o genocídio contra os bósnios. E a primeira coisa que fizemos foi proporcionar-lhes as armas para defenderem-se. Isso é o que penso que podemos fazer na Líbia". ( Clinton: US ready to aid to Libyan opposition - Associated , Press, February 27, 2011, emphasis added

O cenário estratégico seria pressionar rumo à formação e reconhecimento de um governo interino da província secessionista, tendo em vista finalmente fragmentar o país.

Esta opção já está a caminho. A invasão da Líbia já começou.

"Centenas de conselheiros militares estadunidenses, britânicos e franceses chegaram à Cirenáica, a província separatista do Leste,... Os conselheiros, incluindo oficiais de inteligência, foram lançados de navios de guerra e navios de mísseis nas cidades costeiras de Bengazi e Tobruk" ( Debkafile, US military advisers in Cyrenaica , February 25, 2011)

Forças especiais dos EUA e aliados estão no território na Líbia Oriental, proporcionando apoio encoberto aos rebeldes. Isto foi reconhecido quando comandos britânicos das Forças Especiais SAS foram presos na região de Bengazi. Estavam atuando como conselheiros militares para forças de oposição: "Oito comandos de forças especiais britânicas, numa missão secreta para colocar diplomatas britânicos em contacto com oponentes destacados do Cro. Muammar Kadafi na Líbia, acabaram humilhados depois de terem apoiado forças rebeldes na Líbia Oriental", informa o Sunday Times de hoje (09.03.2011).

“Os homens, armados, mas à paisana, afirmaram que foram verificar as necessidades da oposição e oferecer ajuda “. ( Top UK commandos captured by rebel forces in Libya: Report, Indian Express , March 6, 2011, sublinhado pelo autor)

As forças SAS foram presas quando escoltavam uma "missão diplomática" britânica a qual entrou ilegalmente no país (sem dúvida de um navio de guerra britânico) para discussões com líderes da rebelião. O Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico reconheceu que "uma pequena equipe diplomática britânica foi enviada à Líbia Oriental para iniciar contactos com a oposição rebelde". U.K. diplomatic team leaves Libya - World - CBC News , March 6, 2011).

Ironicamente, as reportagens não só confirmam a intervenção militar ocidental (incluindo várias centenas de forças especiais), como também reconhecem que a rebelião se opunha firmemente à presença ilegal de tropas estrangeiras sobre o solo líbio: "A intervenção da SAS enraiveceu figuras líbias da oposição as quais ordenaram que os soldados fossem trancados numa base militar. Oponentes de Kadafi temem que ele possa utilizar qualquer evidência de interferência militar ocidental para congregar apoio patriótico para o seu regime". ( Reuters , March 6, 2011)

O "diplomata" britânico capturado com soldados das forças especiais era membro da inteligência britânica, um agente do MI6 numa "missão secreta". ( The Sun , March 7, 2011)

Declarações dos EUA e OTAN confirmam que estão sendo fornecidas armas às forças de oposição. Há indicações, embora não há prova clara até agora, de que foram entregues armas aos insurgentes antes do desencadeamento da rebelião. Com toda probabilidade, conselheiros militares e de inteligência dos EUA e OTAN também estavam no terreno antes da insurreição. Este foi o padrão aplicado no Kosovo: forças especiais apoiando e treinando o Kosovo Liberation Army (KLA) nos meses que antecederam a campanha de bombardeamento de 1999 e a invasão da Iugoslávia.

Tal como os acontecimentos se desdobram, contudo, forças do governo líbio recuperaram controle sobre posições rebeldes:

"A grande ofensiva das forças pró-Kadafi lançadas [4 Março] para arrebatar das mãos dos rebeldes o controle das cidades e centros petrolíferos mais importantes da Líbia resultou [5 Março] na recaptura da cidade chave de Zawiya e da maior parte das cidades petrolíferas em torno do Golfo de Sirte. Em Washington e Londres, a conversa da intervenção militar ao lado da oposição líbia foi emudecida pela percepção de que a inteligência de campo de ambos os lados do conflito líbio era demasiado incompleta para servir de base à tomada de decisões ". (Debkafile, Qaddafi pushes rebels back. Obama names Libya intel panel , March 5, 2011, sublinhado pelo autor)

O movimento da oposição está fortemente dividido quanto à questão da intervenção estrangeira.

A divisão é entre o movimento das bases por um lado e os "líderes" apoiados pelos EUA da insurreição armada que são a favor da intervenção militar estrangeira por "razões humanitárias".

A maioria da população líbia, tanto os apoiadores como os oponentes do regime, é fortemente contra qualquer forma de intervenção externa.



DESINFORMAÇÃO DA MÍDIA

Os vastos objetivos estratégicos subjacentes à invasão proposta não são mencionados pela mídia. Teve inicio uma campanha enganosa da mídia, em que notícias eram literalmente falsificadas sem relação com o que realmente estava acontecendo no conflito, um amplo setor da opinião pública internacional concedeu o seu firme apoio à intervenção estrangeira, por razões humanitárias.

A invasão está na prancheta do Pentágono. Está destinada a ser executada independentemente dos desejos do povo da Líbia incluindo os oponentes do regime, os quais têm exprimido a sua aversão à intervenção militar estrangeira em desrespeito a soberania da nação.



POSICIONAMENTO DA FORÇA NAVAL E AÉREA

Caso ocorra a intervenção militar a execução resultaria numa guerra geral, um blitzkrieg, implicando o bombardeio tanto de alvos militares como civis.

A este respeito, o general James Mattis, comandante do U.S. Central Command (USCENTCOM), declarou que o estabelicimento de uma "zona de interdição de voo" envolveria de fato uma campanha de bombardeamento geral, que alvejasse entre outras coisas o sistema de defesa aéreo6 da Líbia.

"Seria uma operação militar – não seria suficiente dizer às pessoas para não voarem com aviões. Teria de ser removida a capacidade de defesa aérea a fim de estabelecer uma zona de interdição de voo, que não haja ilusões quanto a isto ". (U.S. general warns no-fly zone could lead to all-out war in Libya, Mail Online, March 5, 2011, sublinhado pelo autor).

Uma força naval dos EUA e de aliados foi posicionada ao longo da costa líbia.

O Pentágono está movendo os seus vasos de guerra para o Mediterrâneo. O porta-aviões USS Enterprise transitou através do Canal de Suez poucos dias após a insurreição. (http://www.enterprise.navy.mil)

Os navios anfíbios dos EUA, USS Ponce e USS Kearsarge, também foram posicionados no Mediterrâneo.

Foram despachados 400 fuzileiros navais dos EUA para a ilha grega de Creta "antes do seu posicionamento em navios de guerra ao longo da Líbia" ( Operation Libya": US Marines on Crete for Libyan deployment , Times of Malta, March 3, 2011).

Enquanto isso, a Alemanha, França, Grã-Bretanha, Canadá e Itália estão no processo de posicionar vasos de guerra ao longo da costa líbia.

A Alemanha posicionou três navios de guerra utilizando o pretexto da assistência na evacuação de refugiados sobre a fronteira Líbia-Tunísia. "A França decidiu enviar o Mistral, o seu porta-helicópteros, os quais, segundo o Ministério da Defesa, contribuirão para a evacuação de milhares de egípcios". (Towards the Coasts of Libya: US, French and British Warships Enter the Mediterranean, Agenzia Giornalistica Italia, March 3, 2011). O Canadá despachou (2 Março) a fragata HMCS Charlettetown.

Entretanto, a US 17th Air Force, chamada US Air Force Africa, baseada na Ramstein Air Force Base, na Alemanha, está assistindo a evacuação de refugiados. As instalações da força aérea EUA-OTAN na Grã-Bretanha, Itália, França e Oriente Médio estão em prontidão.

Fonte: O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23548
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

domingo, 13 de março de 2011

“Não queremos ser os Estados dos Business Unidos” Michael Moore



“Não queremos ser os Estados dos Business Unidos”
Avante, Madison! Força! Estamos com vocês!
“America ISNOT broke”










05/03/2011,


Michael Moore

“As três mentiras”, Madison, Wisconsin
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu



Ao contrário do que diz o poder, que quer que vocês desistam das pensões e aposentadorias, que aceitem salários de fome, e voltem para casa em nome do futuro dos netos de vocês, os EUA não estão falidos. Longe disso. Os EUA nadam em dinheiro. O problema é que o dinheiro não chega até vocês, porque foi transferido, no maior assalto da história, dos trabalhadores e consumidores, para os bancos e portfólios dos hiper mega super ricos.
Hoje, 400 norte-americanos têm a mesma quantidade de dinheiro que metade da população dos EUA, somando-se o dinheiro de todos.



Vou repetir. 400 norte-americanos obscenamente ricos, a maior parte dos quais foram beneficiados no ‘resgate’ de 2008, pago aos bancos, com muitos trilhões de dólares dos contribuintes, têm hoje a mesma quantidade de dinheiro, ações e propriedades que tudo que 155 milhões de norte-americanos conseguiram juntar ao longo da vida, tudo somado. Se dissermos que fomos vítimas de um golpe de estado financeiro, não estamos apenas certos, mas, além disso, também sabemos, no fundo do coração, que estamos certos.

Mas não é fácil dizer isso, e sei por quê. Para nós, admitir que deixamos um pequeno grupo roubar praticamente toda a riqueza que faz andar nossa economia, é o mesmo que admitir que aceitamos, humilhados, a ideia de que, de fato, entregamos sem luta a nossa preciosa democracia à elite endinheirada. Wall Street, os bancos, os 500 da revistaFortune governam hoje essa República – e, até o mês passado, todos nós, o resto, os milhões de norte-americanos, nos sentíamos impotentes, sem saber o que fazer.

Veja o Vídeo em http://www.youtube.com/watch?v=wgNuSEZ8CDw

Nunca freqüentei universidades. Só estudei até o fim do segundo grau. Mas, quando eu estava na escola, todos tínhamos de estudar um semestre de Economia, para concluir o segundo grau. E ali, naquele semestre, aprendi uma coisa: dinheiro não dá em árvores. O dinheiro aparece quando se produzem coisas e quando temos emprego e salário para comprar coisas de que precisamos. E quanto mais compramos, mais empregos se criam. O dinheiro aparece quando há sistema que oferece boa educação, porque assim aparecem inventores, empresários, artistas, cientistas, pensadores que têm as ideias que ajudam o planeta. E cada nova ideia cria novos empregos, e todos pagam impostos, e o Estado também tem dinheiro. Mas se os mais ricos não pagam os impostos que teriam de pagar por justiça, a coisa toda começa a emperrar e o Estado não funciona. E as escolas não ensinam, nem aparecem os mais brilhantes capazes de criar mais e mais empregos. Se os ricos só usam seu dinheiro para produzir mais dinheiro, se de fato só o usam para eles mesmos, já vimos o que eles fazem: põem-se a jogar feito doidos, apostam, trapaceiam, nos mais alucinados esquemas inventados em Wall Street, e destroem a economia.

A loucura que fizeram em Wall Street custou-nos milhões de empregos. O Estado está arrecadando menos. Todos estamos sofrendo, como efeito do que os ricos fizeram.

Mas os EUA não estão falidos, amigos. Wisconsin não está falido. Repetir que o país está falido é repetir uma Enorme Mentira. As três maiores mentiras da década são: 1) os EUA estão falidos, 2) há armas de destruição em massa no Iraque; e 3) os Packers não ganharão o Super Bowl sem Brett Favre.

A verdade é que há muito dinheiro por aí. MUITO. O caso é que os homens do poder enterraram a riqueza num poço profundo, bem guardado dentro dos muros de suas mansões. Sabem que cometeram crimes para conseguir o que conseguiram e sabem que, mais dia menos dias, vocês vão querer recuperar a parte daquele dinheiro que é de vocês. Então, compraram e pagaram centenas de políticos em todo o país, para conduzirem a jogatina em nome deles. Mas, p’ro caso de o golpe micar, já cercaram seus condomínios de luxo e mantêm abastecidos, prontos para decolar, os jatos particulares, motor ligado, à espera do dia que, sonham eles, jamais virá. Para ajudar a garantir que aquele dia nunca cheguasse, o dia em que os norte-americanos exigiriam que seu país lhes fosse devolvido, os ricos tomaram duas providências bem espertas:

1. Controlam todas as comunicações. Como são donos de praticamente todos os jornais e redes de televisão, espertamente conseguiram convencer muitos norte-americanos mais pobres a comprar a versão deles do Sonho Americano e a eleger os candidatos deles, dos ricos. O Sonho Americano, na versão dos ricos, diz que vocês também, algum dia, poderão ser ricos – aqui é a América, onde tudo pode acontecer, se você insistir e nunca desistir de tentar! Convenientemente para eles, encheram vocês com exemplos convincentes, que mostram como um menino pobre pode enriquecer, como um filho criado sem pai, no Havaí, pode ser presidente, como um rapaz que mal concluiu o ginásio pode virar cineasta de sucesso. E repetirão essas histórias mais e mais, o dia inteiro, até que vocês passem a viver como se nunca, nunca, nunca, precisassem agitar a ‘realidade’ – porque, sim, você – você, você mesmo! – pode ser rico/presidente/ganhar o Oscar, algum dia!

A mensagem é clara: continuar a viver de cabeça baixa, nariz virado p’ro trilho, não sacuda o barco, e vote no partido que protege hoje o rico que você algum dia será.

2. Inventaram um veneno que sabem que vocês jamais quererão provar. É a versão deles da mútua destruição garantida. E quando ameaçaram detonar essa arma de destruição econômica em massa, em setembro de 2008, nós nos assustamos quando a economia e a bolsa de valores entraram em espiral rumo ao poço, e os bancos foram apanhados numa “pirâmide Ponzi” global, Wall Street lançou sua ameaça-chantagem: Ou entregam trilhões de dólares do dinheiro dos contribuintes dos EUA, ou quebramos tudo, a economia toda, até os cacos. Entreguem a grana, ou adeus poupanças. Adeus aposentadorias. Adeus Tesouro dos EUA. Adeus empregos e casas e futuro. Foi de apavorar, mesmo, e nos borramos de medo. “Aqui, aqui! Levem tudo, todo o nosso dinheiro. Não ligamos. Até, se quiserem, imprimimos mais dinheiro, só pra vocês. Levem, levem. Mas, por favor, não nos matem. POR FAVOR!”.

Os economistas executivos, nas salas de reunião e nos fundos rolavam de rir. De júbilo. E em três meses lá estavam entregando, eles, uns aos outros, os cheques dos ricos bônus obscenos, maravilhados com o quão perfeita e absolutamente haviam conseguido roubar uma nação de otários. Milhões perderam os empregos: pagaram pela chantagem e, mesmo assim, perderam os empregos, e milhões pagaram pela chantagem e perderam as casas. Mas ninguém saiu às ruas. Não houve revolta.

Até que... COMEÇOU! Em Wisconsin!

Jamais um filho de Michigan teve mais orgulho de dividir um mesmo lago com Wisconsin!

Vocês acordaram o gigante adormecido – a grande multidão de trabalhadores dos EUA. Agora, a terra treme sob os pés dos que caminham e estão avançando!

A mensagem de Wisconsin inspirou gente em todos os 50 estados dos EUA. A mensagem é “Basta! Chega! Basta!” Rejeitamos todos os que nos digam que os EUA estão falidos e falindo. É exatamente o contrário. Somos ricos! Temos talento e ideias e sempre trabalhamos muito e, sim, sim, temos amor. Amor e compaixão por todos os que – e não por culpa deles – são hoje os mais pobres dos pobres. Eles ainda querem o mesmo que nós queremos: Queremos nosso país de volta! Queremos, devolvida a nós, a nossa democracia! Nosso nome limpo. Queremos de volta os Estados Unidos da América.

Não somos, não queremos continuar a ser, os Estados dos Business Unidos da América!

Como fazer acontecer? Ora, estamos fazendo aqui, um pouco, o que o Egito está fazendo lá. E o Egito faz, lá, um pouco do que Madison está fazendo aqui.

E paremos um instante, para lembrar que, na Tunísia, um homem desesperado, que tentava vender frutas na rua, deu a vida, para chamar a atenção do mundo, para que todos vissem como e o quanto um governo de bilionários lá estava, afrontando a liberdade e a moral de toda a humanidade.

Obrigado, Wisconsin. Vocês estão fazendo as pessoas ver que temos agora a última chance de vencer uma ameaça mortal e salvar o que nos resta do que somos.

Vocês estão aqui há três semanas, no frio, dormindo no chão – por mais que custe, vocês fizeram. E não tenham dúvidas: Madison é só o começo. Os escandalosamente ricos, dessa vez, pisaram na bola. Bem poderiam ter ficado satisfeitos só com o dinheiro que roubaram do Tesouro. Bem se poderiam ter saciado só com os empregos que nos roubaram, aos milhões, que exportaram para outros pontos do mundo, onde conseguiam explorar ainda mais, gente mais pobre. Mas não bastou. Tiveram de fazer mais, queriam ganhar mais – mais que todos os ricos do mundo. Tentaram matar a nossa alma. Roubaram a dignidade dos trabalhadores dos EUA. Tentaram nos calar pela humilhação. Nos tiraram a mesa de negociações!

Recusam-se até a discutir coisas simples como o tamanho das salas de aula, ou o direito de os policiais usarem coletes à prova de balas, ou o direito de os pilotos e comissários de bordo terem algumas poucas horas a mais de descanso, para que trabalhem com mais segurança para todos e possam fazer melhor o próprio trabalho –, trabalho que eles compram por apenas 19 mil dólares anuais.

Isso é o que ganham os pilotos de linhas curtas, talvez até o piloto que me trouxe hoje a Madison. Contou-me que parou de esperar algum aumento. Que, agora, só pede que lhe deem folgas um pouco maiores, para não ter de dormir no carro entre os turnos de voo no aeroporto O'Hare. A que fundo do poço chegamos!

Os ricos já não se satisfazem com pagar salário de miséria aos pilotos: agora, querem roubar até o sono dos pilotos. Querem humilhar os pilotos, desumanizá-los e esfregar a cara dos pilotos na própria vergonha. Afinal, piloto ou não, ele não passa de mais um sem-teto...

Esse, meus amigos, foi o erro fatal dos Estados dos Business Unidos da América. Ao tentar nos destruir, fizeram nascer um movimento – uma revolta massiva, não violenta, que se alastra pelo país. Sabíamos que, um dia, aquilo teria de acabar. E acabou agora, já começou a acabar.

A mídia não entende o que está acontecendo, muita gente na mídia não entende.

Dizem que foram apanhados desprevenidos no Egito, que não previram o que estava por acontecer. Agora, se surpreendem e nada entendem, porque tantas centenas de milhares de pessoas viajam até Madison nas últimas semanas, enfrentando inverno brutal. “O que fazem lá, parados na rua, com vento, com neve?” Afinal... houve eleições em novembro, todos votaram... O que mais podem desejar?!”. “Está acontecendo algo em Madison. Que diabo está acontecendo lá? Quem sabe?”

O que está acontecendo é que os EUA não estão falidos. A única coisa que faliu nos EUA foi a bússola moral dos governantes. Viemos para consertar a bússola e assumir o timão para levar o barco, agora, nós mesmos.

Nunca esqueçam: enquanto existir a Constituição, todos são iguais: cada pessoa vale um voto. Isso, aliás, é o que os ricos mais detestam por aqui. Porque, apesar de eles serem os donos do dinheiro e do baralho e da mesa da jogatina, um detalhe eles não conseguem mudar: nós somos muitos e eles são poucos!

Coragem, Madison, força! Não desistam!

Estamos com vocês. O povo, unido, jamais será vencido.