Rio Doce
Barre a barragem do barro,
do barro que cospe a lama,
da lama que mata a vida,
da lama de quem não ama,
da lama que afoga o peixe (não deixe),
não deixe que apague a água (não traga
o minério, esse rejeito – sem jeito).
Barre a barra desse ferro da terra,
não barre a água.
Barre o aço, esse rejeito (não quero),
não tem jeito, tem sujeito,
tem nome, tem inscrição.
Barre a barragem do barro que come
a água dessa nascente que some.
Barre a fome dessa lama de fama
que come a água e bebe o sangue da ave:
da ave que come o peixe,
da cobra que come a ave,
da ave que engole o peixe
do peixe que bebe a lama.
Barre a barragem do barro, não fosse
o rio doce desse pranto que canto.
Não barre a vida querida,
não barre a água.
Barre o barro,
barre a lama;
só não barre o sopro desse rio,
desse rio de quem te ama.
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