Pedro
Costa Guedes Vianna/UFPB/abril de 2020
Dizem que
“Deus é Brasileiro”, e dizem também que quando chove no sertão, foi Deus quem
mandou a chuva para salvar o sertanejo. Por outro lado, a seca, quando assola a
vida do povo do interior do Nordeste, é um “castigo divino”. Essas são
afirmações que não se sustentam. Por
outro lado, foram os homens, os homens de verdade, quem construíram as obras de
reservas hídricas, açudes de todos os portes, cisternas e inúmeras Tecnologias
Sociais Hídricas existentes no Semiárido Nordestino. São elas que neste momento
vão ajudar a minimizar os impactos da pandemia no interior do Brasil,
juntamente com as transposições já finalizadas como a do Eixo Leste da
Transposição das Águas do Rio São Francisco.
Misticismos à
parte, existe uma unanimidade entre todos cientistas, médicos e especialistas e
até entre a população em geral, é importante lavar as mãos, sempre, muitas
vezes ao dia, e para isso é preciso ÁGUA! Não há como fugir disso, dizem todas
as autoridades. Portanto a disponibilidade hídrica, ou seja, a oferta de água,
seja ela pelas Companhias Estatais, Sistemas autônomos de Prefeituras ou pela
Operação Pipa do Governo Federal, são neste momento CRUCIAIS. Óbvio que o
acesso à água sempre foi primordial para a vida, mas neste momento, ele sobe de
importância pois é o elemento principal de combate a pandemia.
Assim, este
texto analisa o aumento da disponibilidade nos grandes e médios açudes da
Paraíba, nos tempos em que o vírus Sars-Cov-2, chega ao Nordeste, entrando pelo
litoral, e como os europeus no passado, iniciando sua marcha para o oeste rumo
ao semiárido. Uma análise do nível, dos reservatórios da Paraíba nos mostra uma
boa notícia, de janeiro até a primeira semana de abril, tivemos um incremento
muito grande nas reservas hídricas do nosso Semiárido. Os dados estão
disponíveis na site da AESA-PB <http://www.aesa.pb.gov.br/aesa-website/monitoramento/ultimos-volumes/>
e são confiáveis. Pode-se imaginar que
este cenário também deve estar se repetindo em outros estados do Nordeste, obviamente
com diferenças regionais. Alguém sempre dirá: foi Deus quem mandou as chuvas,
(sabemos que não é bem assim) mas é preciso lembrar que fomos nós os homens que
construímos os meios de reservá-la, mesmo com todas as críticas que possamos
ter à nossas intervenções na natureza.
A seguir
exemplificamos dois dos maiores açudes da Paraíba, onde os gráficos mostram o
aumento das reservas de águas. O Reservatório do Boqueirão (Epitácio Pessoa) abastece
Campina Grande e Região com uma população superior a 600.000 habitantes, que
inclusive também recebe águas da Transposição do Rio São Francisco. Este,
passou de 15% para 64% de sua capacidade, passando de 70 milhões para 296
milhões de m³ de água, um incremento de 226 milhões. O reservatório de Coremas,
na região central do Estado, passou de 8% para 38%, passando de 59 milhões para
282 milhões de m³. Isso demonstra que a partir de 15 de março, possivelmente quando
o vírus estava entrando na Paraíba, os açudes receberam importantes aportes
hídricos.
Destes dados,
podemos inferir que toda rede de drenagem, à montante destes reservatórios,
certamente foi beneficiada por este aporte, e as cisternas de placas que já
superam os 800.000 em toda a região Nordeste e mais de 100.000 só na Paraíba,
dados da ASA Brasil <https://www.asabrasil.org.br/mapatecnologias/>
e do LEGAT/UFPB <http://www.geociencias.ufpb.br/leppan/gepat/atlas/>
estão cheias. Portanto as cisternas que bastecem as populações do semiárido,
construídas pelas ONGs e pelo Movimento Social Organizado, com apoio do Governo
Federal, entre 2003 e 2016, estão cheias e que ajudarão as populações dispersas
no meio rural, neste momento. Isso significa um aporte de 12.800.000 m³ no Nordeste e 1.600.000 m³ na
Paraíba, diretamente onde se precisa da água, ou seja, ao lado da casa do
agricultor sertanejo.
Não houvesse o
terremoto político-jurídico-parlamentar, ou simplesmente, “O Golpe” que quebrou
a normalidade institucional no país, haveriam muitas mais cisternas e obras que
nos colocariam em situação melhor diante do quadro que esta se formando. Pois,
sob a presidência de Michel Temer e de seu sucessor, os recursos para as
Tecnologias Sociais Hídricas, “secaram” quase que totalmente.
Pedro Costa Guedes Vianna
Departamento de Geociências da UFPB