Antiga trilha indígena ligava o litoral de SP até Cusco, no Peru
04/Julho de 2019
Já imaginou poder fazer uma trilha
até Machu Picchu, só que partindo do Brasil, mais precisamente do
litoral de São Paulo? Meio impossível para os dias de hoje, só que há algumas
centenas ou milhares de anos, os indígenas faziam esse caminho de boa, pra lá e
pra cá! Essa história, ainda que um pouco enigmática, é sobre uma das mais
fascinantes trilhas da América do Sul, o chamado Caminho do Peabiru, que unia a
cidade São Vicente, em SP, até Cusco, no Peru.
De fato, essa trilha existiu e o que não faltam são relatos
históricos e grandes personagens que, inclusive, conseguiram cruzá-la, em plena
época das explorações. Tá afim de conhecer um pouco mais sobre
as Peabirus? Então, se liga até o final!
A descoberta da mais fascinante de todas as
trilhas da América do Sul
Os primeiros relatos sobre o Caminho do Peabiru
ainda causam dúvidas entre os pesquisadores. Há quem diga que a designação do
nome veio pelo relato de um jesuíta Pedro Lozano que escreveu o livro História da Conquista do Paraguai, Rio da Prata e Tucumán no
século XVIII, mas muitos outros afirmam que o nome já era usado em São Vicente,
em SP, logo nos primeiros anos de descobrimento do Brasil.
O importante é que o Caminho do Peabiru começou a se tornar de interesse dos
europeus lá pelo ano de 1514, quando uma expedição portuguesa, buscando
descobrir onde o novo continente recém descoberto acabaria, acabou encontrando
a foz de um imenso rio. Ali, alguns indígenas (originais Charruas) fizeram o
primeiro contato com os brancos e disseram que no alto desse rio, muito
distante, havia uma civilização riquíssima e repleta de ouro e prata
(certamente, eles se referiam aos famosos e poderosos Incas).
Pra quê, né? Logo, os europeus cresceram o olho e,
a partir daí, se iniciaram as primeiras incursões por esse imenso rio, que
ganhou o nome de Rio de La Plata, até hoje chamada assim (vai dizer que
sabia disso?).
Como todo boa fofoca, a notícia chegou a Europa e
os espanhóis, vendo que a região do Rio de La Plata pertencia, na verdade, ao
território deles pelo Tratado de Tordesilhas, trataram de enviar uma expedição
repleta de interesseiros em explorar ao tão misterioso Rio de La Plata e,
finalmente, chegar até essa civilização rica no alto do continente (isso mesmo,
as primeiras tentativas de descoberta do Peru, se iniciaram pelo sul do
continente).
Aleixo Garcia, o cara que completou toda a
trilha do Peabiru
Nessa nova expedição, agora de origem espanhola,
comandada por Juan de Solis, finalmente, os navios chegam em território
“uruguaio” (naquela época, nem tinha nome oficial ainda) e... SIFU!!! O capitão
desce da embarcação, é atacado pelos indígenas e devorado ali mesmo, em frente
aos seus homens. Com esse episódio, os navios resolvem retornar sem capitão,
subindo novamente pelo continente e... SIFU de novo! Uma das embarcações
naufraga em Santa Catarina, deixando mortos e feridos, entre esses últimos, um
cara chamado Aleixo Garcia, que passaria a viver entre os índios Carijós,
simpáticos catarinenses (esses não eram canibais).
Os caras praticamente viraram “brasileiros” àquela
altura e, para a surpresa de Aleixo Garcia, os Carijós contavam exatamente a
mesma história de que no alto do continente, havia
uma uma civilização avançada, riquíssima em ouro e prata e que haviam
trilhas ligando o litoral do Atlântico até os povoados Incas, no Peru. Pronto!
Era o que Aleixo Garcia precisava para iniciar a sua expedição pela maior das
trilhas da América do Sul: o caminho do Peabiru!
A expedição
Depois de alguns anos reconhecendo a região, Aleixo
Garcia e seus amigos sobreviventes espanhóis (que estavam vivendo de boa com os
índios) decidem, então, partir para uma das mais alucinantes expedições por
terra que o homem branco viria a fazer pelo novo continente. Se estima que mais
de 2000 indios carijós toparama empreitada e seguiram
juntos, com armas e alimentos por um caminho de terra e grama batida, que partia
do litoral catarinense e se encontrava com outros grandes ramais no oeste de
Paraná. Esses dois ramais da trilha davam início em Cananéia e São Paulo. Ou
seja, a trilha tinha ligações com outros “estados”.
Enfim, seguiram os doidões pela mata, por meses de
caminhada, até onde hoje é a cidade Assunção, capital do Paraguai. De lá, era
necessário remar em pequenos barcos, continente acima e os caras CHEGARAM em
uma enorme montanha de prata, no qual se acredita ser a cidade de Potosí. Ali,
muito provavelmente, houveram batalhas entre os indios brasileiros e
os Incas, no qual se conseguem saquear quantias de ouro e prata e se inicia o
retorno pela trilha até o Brasil.
Só que, mais uma vez, Aleixo Garcia, que teve seu
capitão devorado no Uruguai e depois sofrer um naufrágio, SIFU de novo... no
meio de caminho de volta, o exército de Aleixo dá de cara com os ferozes
índios Payagás, que matam o espanhol e muitos outros que o acompanhavam.
No entanto, após a tragédia, alguns indios carijós, finalmente,
chegam de volta ao seu território, trazendo as provas em ouro e prata,
garantindo que a trilha do Peabiru foi concluída e passando a informação para
os exploradores seguintes que chegariam ao território brasileiro.
Incrível, né? Hoje, ainda se acredita que alguns
trechos dessa imensa trilha ainda existem e são fontes de estudos arqueológicos
e históricos.
E aí? Já tinha ouvida falar dessas trilhas da
América do Sul e do Caminho do Peabiru? Como a gente é camarada e sabe que você
se amarrou na história, a gente até separou uma listinha de livros sobre o
assunto que dá pra comprar e embarcar, bem mais a fundo nesses fascinantes
relatos do nosso continente. Se liga!
Livros sobre o Caminho do Peabiru
Fonte:
Eco Durismo
Viajando com pouca grana
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