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domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Líbia e o Imperialismo

Workers World

25/02/11

De todos os conflitos que ocorrem no Norte de África até agora e no Médio Oriente, o mais difícil de decifrar é o da Líbia.

Qual é o caráter da oposição ao regime de Kadafi, quem agora controla a cidade de Bengazi, no nordeste do país?

Será apenas coincidência que a rebelião tenha começado em Bengazi, a qual se localiza ao norte dos mais ricos campos petrolíferos da Líbia bem como próxima da maior parte dos seus oleodutos e gasodutos, refinarias e seu porto de gás natural liquefeito de petróleo (GLP)? Haverá um plano de divisão do país?

Qual é o risco de intervenção militar imperialista, a qual apresenta grave perigo para o povo de toda a região?

A Líbia não é como o Egito. Seu líder, Moamar Kadafi, não tem sido um fantoche do imperialista como Hosni Mubarak. Durante muitos anos, Kadafi esteve aliado a países e movimentos que combatiam o imperialismo. Ao tomar o poder em 1969 através de um golpe militar, ele nacionalizou o petróleo da Líbia e utilizou grande parte do dinheiro para desenvolver a economia líbia. As condições de vida do povo melhoraram radicalmente.

Por isso, os imperialistas estavam determinados a botar a Líbia abaixo. Os EUA em 1986 lançaram ataques aéreos a Trípoli e Bengazi que mataram 60 pessoas, incluindo a filha de Kadafi – o que raramente é mencionado pela mídia de aluguel corporativa. Foram impostas sanções devastadoras tanto pelos EUA como pela ONU a fim de arruinar a economia líbia.

Depois que os EUA invadiram o Iraque em 2003 e arrasaram grande parte de Bagdá com uma campanha de bombardeamento, em que o Pentágono chamou exaustivamente "pavor e choque", Kadafi tentou evitar a ameaça de outra agressão à Líbia fazendo grandes concessões políticas e econômicas ao imperialismo. Ele abriu a economia a bancos e corporações estrangeiras; concordou com exigências do FMI quanto ao "ajuste estrutural", privatizando muitas empresas estatais e cortando subsídios do Estado a necessidades como alimentos e combustível.

O povo líbio está sofrendo com uma inflação galopante dos preços e um grande índice de desemprego, que são uma das determinações que estão na base das rebeliões de outro lado é impulsionada e alimentada em decorrência da crise econômica capitalista mundial.

Não pode haver dúvida de que a luta que varre o mundo árabe pela liberdade política e a justiça econômica também tocou um ponto sensível na Líbia. Não há dúvida de que o descontentamento com o regime Kadafi está motivando uma parte significativa da população.

Contudo, é importante para os progressistas, saber que muitas das pessoas que estão se oportunizando e se apresentando no Ocidente como líderes da oposição é há muito tempo agentes do imperialismo. A BBC mostrou em 22 de Fevereiro filmes de multidões em Bengazi botando abaixo a bandeira verde da república da Líbia e substituindo-a pela bandeira do antigo rei Idris – que foi um fantoche dos EUA e do imperialismo britânico.

A imprensa ocidental baseia grande parte das suas reportagens sobre supostos acontecimentos, com base em informações fornecidas por grupos exilados, principalmente a Frente Nacional para a Salvação da Líbia (National Front for the Salvation of Libya), a qual foi treinada e financiada pela CIA estadunidense. Pesquise na rede nos buscadores o nome da frente mais CIA e encontrará centenas de referências.

O Wall Street Journal de 23 de Fevereiro escreveu em editorial que "Os EUA e a Europa deveriam ajudar os líbios a derrubarem o regime de Kadafi". Não há qualquer conversa nas salas das administrações ou nos corredores de Washington a respeito de intervir para ajudar o povo do Kuwait ou da Arábia Saudita ou do Bahrain a derrubarem seus governantes ditatoriais. Mesmo com todos os falsos elogios às lutas de massas que agora sacodem a região, isso seria impensável. Em relação ao Egito e à Tunísia, o imperialismo está movendo todas as alavancas que podem para tirar as massas das ruas.

Tão pouco houve qualquer conversa de intervenção dos EUA para ajudar o povo palestino de Gaza quando milhares foram massacrados e morreram por ataques e bloqueios, bombardeados e invadidos por Israel. Exatamente o oposto. Os EUA intervieram para impedir a condenação do Estado colonizado por sionistas.

O interesse do imperialismo na Líbia não é difícil de descobrir. Em 22 de Fevereiro passado a Bloomberg.com escreveu: a Líbia é o terceiro maior produtor de petróleo da África, é o país do continente que tem as maiores reservas auditado — 44,3 bilhões de barris. É um país com uma população relativamente pequena, mas com potencial para produzir enormes lucros para as companhias de petróleo gigantes. É assim que os super ricos a encaram e é o que está por trás da sua apregoada preocupação com os direitos democráticos do povo da Líbia.

As concessões obtidas de Kadafi não foram suficientes para os barões imperialistas do petróleo. Eles querem um governo sob a sua tutela total, tudo do bom e do melhor. Eles nunca esqueceram que Kadafi derrubou a monarquia e nacionalizou o petróleo. Fidel Castro, em Cuba, na sua coluna "Reflexões" registra o apetite do imperialismo por petróleo e adverte que os EUA estão a lançando as bases para a intervenção militar na Líbia.

Nos EUA, algumas forças tentam mobilizar uma campanha em nível de rua promovendo uma intervenção estadunidense na Líbia. Deveríamos opor-nos a isto totalmente e recordar a qualquer pessoa bem intencionada os milhões de mortos promovidos pela intervenção dos EUA no Iraque.

As pessoas progressistas têm simpatia com os que lutam na Líbia e encaram como um movimento popular. Podemos ajudar tal movimento principalmente pelo apoio às suas exigências justas, mas rejeitando uma intervenção imperialista, seja qual for à forma que assuma. É o povo da Líbia que deve decidir o seu futuro.

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Ver também: Faut-il intervenir militairement en Libye ? , de Alain Gresh
O original encontra-se em www.workers.org/2011/editorials/libya_0303/
Fonte: www.resistir.info































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