Massacre na Síria foi cometido por rebeldes e não pelo governo
Do
Jornal Alemão
18/06/2012
Frankfurter Allgemeine Zeitung Confirms:
Houla Massacre Committed By Syrian “Rebels”
Clara Weiss 16/06/ 2012
Rede britânica BBC publicou foto da Guerra do
Iraque em 2003 como se fosse do massacre de maio na Síria
No dia 25 de maio deste ano,
a imprensa internacional noticiou um violento massacre ocorrido na cidade de
Houla, no oeste da Síria. No total, 108 pessoas teriam sido mortas, boa parte
delas executadas, sendo 34 mulheres e 49 crianças. Foi a senha para que a ONU e
as potências ocidentais aumentassem a pressão sobre o governo de Bashar Al Assad,
rapidamente responsabilizado pela matança. Dezenas de países expulsaram
diplomatas sírios em protesto e, pela primeira vez, líderes como o presidente
francês François Hollande falaram abertamente em uma intervenção estrangeira na
Síria.
Um mês depois, no entanto, um
dos maiores jornais da Alemanha revela que a história pode não ter sido bem
assim. Segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung, o massacre não teria
sido obra de forças leais a Assad, como amplamente divulgado, mas por membros
do ELS (Exército Livre da Síria), um dos grupos de rebeldes armados que há
quase um ano e meio enfrentam o governo, com o apoio explícito de países como
Estados Unidos e Reino Unido.
Em duas reportagens
publicadas nos dias 7 e 13 de junho, o diário alemão relata que a maior parte
das vítimas do massacre fazia parte de duas tradicionais famílias xiitas e
alauítas de uma aldeia de Houla, vilarejo que fica próximo da cidade de Homs –
principal enclave das forças oposicionistas. Eles teriam sido mortos por
integrantes do ELS, militares de orientação sunita que desertaram do Exército
sírio desde que o conflito começou.
Segundo relata o enviado
do Frankfurter Allgemeine Zeitung à Síria, a região tem
histórico de conflitos sectários e rivalidades familiares. “Dos nomes dos civis
mortos, 84 são conhecidos. Estes são os pais, mães e 49 crianças da família Al
Sayyid e dois ramos da família Abdarrazzaq”, diz a reportagem assinada por
Rainer Hermann.
"Os membros da família
foram alvejados e mortos com uma única exceção. Nenhum vizinho ficou ferido”,
continua o correspondente, observando que foi uma execução bem planejada, que
exigiria conhecimento do local.
O repórter ouviu o único
sobrevivente da chacina, um menino de 11 anos chamado Ali, membro da família Al
Sayyid, que descreveu os assassinos como “homens de cabeças raspadas e barbas
longas". Segundo o jornalista, essas características apontam para
"jihadistas fanáticos" e não para a "milícia Shabiha", que
apoia Assad.
A versão hegemônica para o
que ocorreu em Houla foi difundida especialmente pelo relato dos jornais The
Observer (britânico) e pelo alemão Der Spiegel, que
ouviram como principal fonte um integrante do grupo rebelde, que alegou ter
deserdado após o massacre.
De acordo com o relato
do Frankfurter Allgemeine Zeitung, o massacre em Houla
representaria a divisão étnico-religiosa que marca o conflito sírio, já que o
presidente Bashar Al Assad pertence à minoria alauíta, que vem dominando a
política no país nas últimas décadas, enquanto os insurgentes são em sua
maioria da corrente sunita, que por sua vez é rival do ramo xiita do islamismo.
Apesar de não ter repercutido
internacionalmente, a reportagem do jornal alemão publicada em 7 de junho gerou
a reação de um grupo oposicionista baseado em Houla, que, falando em nome
da comunidade, publicou uma carta aberta acusando o repórter Ranier Hermann de
ter “inventado mentiras” sobre o crime. O comunicado diz que o jornalista não
procurou o grupo opositor na cidade e que as famílias chacinadas eram da etnia
sunita.
Essa não é a primeira vez que
o massacre de Houla é alvo de polêmica na imprensa internacional. O jornal The
Telegraph acusou a rede britânica BBC de publicar uma foto antiga
da Guerra do Iraque para ilustrar o crime. A imagem, que mostra uma pilha de
corpos cobertos por lençóis brancos, foi tirada pelo fotógrafo Mauro di Lauro,
da agência Getty Images. Na legenda da foto publicada em seu site, a BBC
diz que a imagem foi enviada por um “ativista” e não poderia ter sua
autenticidade comprovada.
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