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terça-feira, 14 de abril de 2020

A DISPONIBILIDADE DE ÁGUA NO SEMIÁRIDO DO PARAÍBA NA CRISE DO CORONA VÍRUS.



Pedro Costa Guedes Vianna/UFPB/abril de 2020


Dizem que “Deus é Brasileiro”, e dizem também que quando chove no sertão, foi Deus quem mandou a chuva para salvar o sertanejo. Por outro lado, a seca, quando assola a vida do povo do interior do Nordeste, é um “castigo divino”. Essas são afirmações que não se sustentam.  Por outro lado, foram os homens, os homens de verdade, quem construíram as obras de reservas hídricas, açudes de todos os portes, cisternas e inúmeras Tecnologias Sociais Hídricas existentes no Semiárido Nordestino. São elas que neste momento vão ajudar a minimizar os impactos da pandemia no interior do Brasil, juntamente com as transposições já finalizadas como a do Eixo Leste da Transposição das Águas do Rio São Francisco.
Misticismos à parte, existe uma unanimidade entre todos cientistas, médicos e especialistas e até entre a população em geral, é importante lavar as mãos, sempre, muitas vezes ao dia, e para isso é preciso ÁGUA! Não há como fugir disso, dizem todas as autoridades. Portanto a disponibilidade hídrica, ou seja, a oferta de água, seja ela pelas Companhias Estatais, Sistemas autônomos de Prefeituras ou pela Operação Pipa do Governo Federal, são neste momento CRUCIAIS. Óbvio que o acesso à água sempre foi primordial para a vida, mas neste momento, ele sobe de importância pois é o elemento principal de combate a pandemia.
Assim, este texto analisa o aumento da disponibilidade nos grandes e médios açudes da Paraíba, nos tempos em que o vírus Sars-Cov-2, chega ao Nordeste, entrando pelo litoral, e como os europeus no passado, iniciando sua marcha para o oeste rumo ao semiárido. Uma análise do nível, dos reservatórios da Paraíba nos mostra uma boa notícia, de janeiro até a primeira semana de abril, tivemos um incremento muito grande nas reservas hídricas do nosso Semiárido. Os dados estão disponíveis na site da AESA-PB <http://www.aesa.pb.gov.br/aesa-website/monitoramento/ultimos-volumes/> e são confiáveis.  Pode-se imaginar que este cenário também deve estar se repetindo em outros estados do Nordeste, obviamente com diferenças regionais. Alguém sempre dirá: foi Deus quem mandou as chuvas, (sabemos que não é bem assim) mas é preciso lembrar que fomos nós os homens que construímos os meios de reservá-la, mesmo com todas as críticas que possamos ter à nossas intervenções na natureza.
A seguir exemplificamos dois dos maiores açudes da Paraíba, onde os gráficos mostram o aumento das reservas de águas. O Reservatório do Boqueirão (Epitácio Pessoa) abastece Campina Grande e Região com uma população superior a 600.000 habitantes, que inclusive também recebe águas da Transposição do Rio São Francisco. Este, passou de 15% para 64% de sua capacidade, passando de 70 milhões para 296 milhões de m³ de água, um incremento de 226 milhões. O reservatório de Coremas, na região central do Estado, passou de 8% para 38%, passando de 59 milhões para 282 milhões de m³. Isso demonstra que a partir de 15 de março, possivelmente quando o vírus estava entrando na Paraíba, os açudes receberam importantes aportes hídricos.



Destes dados, podemos inferir que toda rede de drenagem, à montante destes reservatórios, certamente foi beneficiada por este aporte, e as cisternas de placas que já superam os 800.000 em toda a região Nordeste e mais de 100.000 só na Paraíba, dados da ASA Brasil <https://www.asabrasil.org.br/mapatecnologias/> e do LEGAT/UFPB <http://www.geociencias.ufpb.br/leppan/gepat/atlas/> estão cheias. Portanto as cisternas que bastecem as populações do semiárido, construídas pelas ONGs e pelo Movimento Social Organizado, com apoio do Governo Federal, entre 2003 e 2016, estão cheias e que ajudarão as populações dispersas no meio rural, neste momento. Isso significa um aporte de  12.800.000 m³ no Nordeste e 1.600.000 m³ na Paraíba, diretamente onde se precisa da água, ou seja, ao lado da casa do agricultor sertanejo.
Não houvesse o terremoto político-jurídico-parlamentar, ou simplesmente, “O Golpe” que quebrou a normalidade institucional no país, haveriam muitas mais cisternas e obras que nos colocariam em situação melhor diante do quadro que esta se formando. Pois, sob a presidência de Michel Temer e de seu sucessor, os recursos para as Tecnologias Sociais Hídricas, “secaram” quase que totalmente.

Pedro Costa Guedes Vianna
Departamento de Geociências da UFPB

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